sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Animações da Pixar: contos de fadas do século XXI?

Fazia tempo que eu não ia ao cinema com altas expectativas em relação a um filme e saía de lá com a sensação de que elas foram superadas -- e muito. Ratatouille veio para quebrar esse jejum.

Ele surpreende em tudo, tanto na técnica quanto na trama. Consegue chamar a atenção das crianças pelos motivos óbvios, estimular os pais a levarem seus filhos e relaxarem se não estiverem a fim de pensar a fundo na estorinha bonitinha de vilões e mocinhos no espírito "Vamos ver alguém talentoso se dar bem pelo menos no filminho, vai" e, além de tudo isso, consegue trazer um puxãozinho de orelha para os que estão no meio do caminho.

Não fosse a feição propositalmente caricatural dos personagens humanos, seria quase impossível imaginar que tudo aquilo é animação (coisa que só chama a atenção de quem já está um pouco mais grandinho e se liga nessas coisas de tecnologia). Um dos aspectos que mais me surpreenderam foram a verossimilhança das funções vitais dos personagens, como a respiração dos ratos, por exemplo.

Sobre a trama, é interessante perceber a habilidade monstruosa dos roteiristas de embutir problematizações socio-político-econômicas de "desde sempre" (mas que valem a pena ser cutucadas) no molde básico vilão-mocinho. A mensagem da importâcia da família e o espírito de "todo mundo pode fazer qualquer coisa" atingem de forma adequada as diferentes faixas etárias com a eficiência de um filme lado B e com a amplitude de público de um filme hollywoodiano.

Tenho tido a impressão de que, dessa forma, a Pixar tem conseguido, através de suas ótimas animações (só não vi Carros), exercer a função social necessária antes delegada aos contos de fadas: entretenimento e alerta.